sábado, setembro 06, 2008

Tarde triste

Como todos os dias faço, acabei de trocar a música de fundo deste blog. Tenho uma lista de músicas e canções que escolhi especialmente para colocar aqui. E só toca uma vez, ficando a opção de repetição para quem escuta.
A que estava na ordem para hoje é "Tarde triste" na linda voz da saudosa Maysa. Foi uma grande coincidência pelo facto desta ser realmente uma tarde triste. Tive notícias da morte de dois grandes amigos que não via há muito tempo e nenhum dos dois eu poude acompanhar até à sua última morada; a notícia veio hoje e os acontecimentos são passados.
O Gabriel eu conheci há vinte anos atrás quando da última vez morei em Portugal. Pertencia a um grupo de amigos que todas as manhãs se reunia na Praça do Geraldo, religiosamente, por volta das 10 horas. Iniciava-se, ali, uma prosa gostosa e que continuava nas visitas que depois empreendíamos por quatro ou cinco tascas, provando os tintos ou brancos e beliscando alguns petiscos. Era um aperitivo para o almoço que cada um de nós comia depois na sua casa, se para tal houvesse vontade...
O que marcava mais nas nossas reuniões, era a intransferível pescaria marcada para todas as quartas-feiras. Nesse dia de cada semana nos reuníamos de madrugada e lá partíamos para o local prèviamente escolhido. Passámos por uma das padarias, na cidade ou no campo, que a essas horas já tínham tirado do forno o inigualável casqueiro alentejano e tomávamos o indispensável mata-bicho que era, quase sempre, uma boa bagaceira e um cafézinho.
Chegávamos ao local da pescaria, preparávamos o material e lançávamos as linhas. Depois íamos tomar o pequeno almoço que consistia numa lasca de toucinho, um pedaço de linguiça, farinheira ou paio, tudo assado na lamparina de álcool e acompanhado daquele pão mole e ainda quente. O garrafão de vinho, inteiro, era absorvido...
Quantas "palhaçadas", piadas, brincadeiras e histórias eram soltas naquelas horas. Três desse grupo já se fôram: Pisco, Cardoso e, agora, o Gabriel (Lambuça). Eles eram o núcleo daquele grupo, a chama que o mantinham coeso.
Voltando-me para o Brasil, tenho a imagem do meu amigo Ferreira. Torcedor ferrenho da Ponte Preta, mas os nossos laços de amizade não incluíam o futebol. Diàriamente nos encontrávamos no Café Regina em Campinas. Ali, ele fazia parte de todos os grupos pela sua popularidade e fino trato. De origem portuguesa, mas brasileiro, amava tudo o que com Portugal se relacionasse e, sempre que eu ía de visita à minha terra, trazia-lhe um pequeno presente; o último foi a colecção das moedas de Euro, portuguesas, que tínham acabado de ser lançadas. Sempre me pedia para lhe conseguir um emblema do Benfica mas, infelizmente, não será mais possível.
Nesta tarde triste transmito aos dois Amigos um grande abraço, muito apertado, tal e qual a força da minha grande admiração, carinho e amizade, agradecendo pelo espaço que preencheram na minha vida.

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