terça-feira, novembro 27, 2007

FILHOS DA PÁTRIA

Muito se tem lido e ouvido sobre as missões dos militares portugueses noutros países na actualidade. Uns os consideram mercenários, outros heróis, enfim. Eu não vou dar aqui a minha opinião a tal respeito por não ser a questão a focalizar.

A verdade é que os três ramos das Forças Armadas Portuguesas são hoje profissionalizadas e constituídos por voluntários o que constitui uma diferença abismal em relação aos tempos da Guerra Colonial quando a maioria era arregimentada compulsivamente e obrigada a cumprir comissões no Ultramar, com o que totalizavam 3 a 4 anos de serviço obrigatório.

Naquele tempo diàriamente morriam alguns nas várias frentes de batalha, outros em acidentes ou com doenças adquiridas. Hoje também se verificam algumas baixas, mas sem comparações a assinalar.

Num destes últimos dias faleceu um dos nossos soldados no Afeganistão, vítima de um acidente. Estava integrado numa força de intervenção da ONU e da qual Portugal faz parte. Soldado paraquedista, de 22 anos --- Sérgio Pedrosa.

Ontem o seu corpo chegou a Portugal e numa base da Força Aérea tiveram início as cerimónias fúnebres com a presença de autoridades militares e de familiares. E é aqui que eu me proponho a fazer as comparações com os tempos passados.

Muitos dos meus camaradas foram enterrados nos próprios campos de batalha mercê das dificuldades logísticas do momento. Outros, cujos corpos foram resgatados, ficaram em cemitérios locais hoje totalmente abandonados porque as famílias não tinham posses para pagar as despesas de transladação. Muitos outros voltaram nos seus esquifes à sua terra natal e a maioria sem quaisquer cerimoniais oficiais.

Pessoalmente, eu encontrava-me a cumprir missão em Timor quando o meu irmão faleceu em Moçambique. Ele pertencia à Força Aérea e não foram cobradas as despesas à família, talvez por isso... Lembro-me que nesse Ramo nunca se identificava um soldado pelo número nas Ordens de Serviço e sim pelo nome. Havia essa e outras diferenças que não se entendem. O meu pai foi buscar o corpo a Lisboa e acompanharam-no, no regresso a Évora, três soldados e um cabo. Todavia, até hoje ainda temos dúvidas sobre o que realmente estará dentro daquela urna...

Muitas das feridas abertas com a Guerra Colonial ainda não cicatrizaram. Alguns dos corpos que jaziam na África foram recentemente entregues aos seus familiares, mas isso em virtude de grandes e complexas negociações entre Associações de ex-combatentes e os Governos locais. Nunca por uma decisão do Estado português que continúa omisso em relação aos soldados de antanho e agindo de modo diferente aos de hoje.

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