Sempre que acontece um acidente aéreo é costume citarem-se as estatísticas, como uma forma de tranquilizar os mais céticos, afirmando que o percentual é muito baixo em relação ao total de desastres que ocorrem com os veículos terrestes.
Diga-se o que se disser e mostrem quantos números quiserem, que eu jamais me confortarei com isso... Sou daqueles que pensam que aqui em baixo sempre poderá haver uma chance de escapar. Já viajei muitas vezes de avião e confesso que essa assiduidade, sem problemas, ainda não me dá total confiança. Sempre sinto aquele friozinho na barriga ao embarcar e jamais consegui evitar pensamentos negativos.
A primeira vez que tive oportunidade de me sentar junto à janela de um avião, com total visibilidade da asa e em vôo diurno, algo aconteceu e que jamais esquecerei. Aliás, isso contribuíu muito para o total dos meus mêdos. Com o olhar fixo na asa, notava que em alguns momentos pequenas partes da mesma se movientavam ligeiramente. A minha preocupação era grande e quase não resisti à tentação de informar a comissária de bordo sobre algo anormal que se estava passando. Mais tarde enriqueci os meus conhecimentos e reduzi os temores quando soube tratar-se de um mecanismo de control --- flapes. Dessa vez não cheguei a pagar o mico...
À hora em que estou escrevendo estas linhas ainda não tive oportunidade de procurar imagens na internet sobre o avião da Qantas que voava de Londres a Melbourne e que teve que fazer um pouso forçado no aeroporto de Manila. E tão pouco é necessário... Vi hoje, pela manhã, a foto no jornal e li a notícia.
Fiquei por muito tempo olhando aquele rombo na fuselagem do Boeing e o meu pensamento voou no tempo para aquele dia 20 de Fevereiro de 2002. Eram 11 horas da manhã quando se iniciou o embarque no vôo Lisboa - São Paulo, num Boeing da TAP, que deveria ter acontecido às 8. Estavamos com 3 horas de atrazo e ninguém deu quaisquer explicações sobre o mesmo.
Ao subir a escada reparei que havia um rombo na junção da fuselagem com a asa, com um diâmetro de 20 centímetros. Comentei o facto com um dos meus filhos que me acompanhava naquela viagem. Disse-lhe estranhar a liberação do embarque diante daquilo que eu achava ser um problema muito grave, independentemente da minha ignorância técnica. Ainda acrescentei que a Companhia portuguesa tinha um dos setores de manutenção mais perfeitos no mundo.
Passada uma hora dentro do avião, numa espera sobre a qual ninguém conhecia os motivos, notei que um outro igual acabava de pousar, taxiava na pista e estacionou ao lado do nosso. Foi então que perdi a vergonha e em voz alta disse para que todos me escutassem: - este avião tem um rombo na fuselagem, não poderá voar e iremos ser transferidos para aquele outro que estacionou ali ao lado!
Percebi que ninguém levou a sério o que eu dissera, mas tive a confirmação de que não era ainda daquela vez que eu iria pagar mico, pois não se passaram 5 minutos para que viesse a ordem de baldeação, mas sem a necessária explicação...
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