sexta-feira, julho 31, 2009

Bar mineiro castiço

Futebol Clube do Porto

"Um esquema no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) do Porto permitiu, segundo o Ministério Público, que durante muito tempo a entrada de jogadores estrangeiros no clube azul-e-branco fosse facilitada e que chegassem mesmo a ser falsificados documentos para serem emitidas as necessárias autorizações de residência."
Esta é mais uma notícia bombástica da imprensa. São tantos escândalos sucessivos e parece que nada acontece. Afinal, quando será que a Justiça portuguesa resolve usar a venda nos dois olhos?

Crónicas de José Sarney

Segundas e Sextas-Feiras são os meus dias de folga na actividade profissional e, por isso, é quando mais me dedico ao meu singelo blogue mesmo sabendo, de ante mão, que nada mudará no Mundo...
Mesmo sabendo que só uns poucos passam os olhos pelas minhas crónicas, escrevo porque nisso sinto prazer e é uma forma de desabafo que em muito me alivía e, no frigir dos ovos reconheço que não o faço para as paredes.
Às vezes escrevo sobre assuntos sem que a respeito dos mesmos tenha total e sólido conhecimento, mas isso flui mais como uma opinião que, afinal, pode ser ou não contestada. Nesse rumo algumas vezes fui tentado a formular uma pergunta: porque um jornal paga pelas crónicas que a maioria dos seus leitores ignora e, mais, quando escritas por alguém que a sociedade abomina?
Como nunca tive a certeza se esse espaço do jornal é remunerado ou não, contive-me. Mas pergunto: as crónicas que normalmente José Sarney escreve no jornal Folha de S. Paulo são remuneradas? é um bico além das funções de senador?
Se se trata de uma participação remunerada, entendo que o jornal já deveria ter, há muito tempo, cortado essa despesa na sua folha de pagamentos. Se é uma participação gratuita, em nada contribui para a valorização do conteúdo daquele veículo informativo. E aqui não se trata de classsificar o jornal como um espaço democrático, pois isso é outra questão. Resumindo, o certo seria um "Fóra Sarney!", grito que já ecôa por este país afóra.
Sou leitor do jornal em questão há 37 anos. Há quanto tempo José Sarney escreve no mesmo eu não sei. Sei que nunca li mais do que o primeiro parágrafo, além do título, de algumas das suas crónicas semanais, o suficiente para ter uma ideia de que a coisa não tinha interesse. Não tanto por não ir com a cara do sujeito, pois isso já seria preconceito.
Hoje quebrei essa regra. E porquê? --- porque o título "O fim dos direitos individuais" era sugestivo e inteirei-me que, finalmente, a coluna estava sendo usada em sua defesa pessoal num momento já tão conturbado da sua situação de morto-vivo, na qual até o Presidente da República acaba de tirar-lhe o seu desastrado apoio.
Depois de tanto tempo colocando ali as suas opiniões sobre assuntos irrelevantes em relação à actualidade, porque só agora usou o espaço para escrever a certa altura "Como julgar uma democracia em que não se tem lei de responsabilidade da mídia nem direito de resposta....." e outros absurdos que tais? Hoje eu li. Mas não vou ler mais nada do que se vier a publicar, porque é tempo perdido.

domingo, julho 26, 2009

EMBRAER alentejana

Hoje, finalmente, é lançada a primeira pedra no local onde serão construídas as duas fábricas da Embraer em Évora. A coisa já estava demorando muito a acontecer, o que nos chegou a deixar um tanto ou quanto céticos quanto à realidade do empreendimento.
Serão 570 postos de trabalho directos e mais de mil indirectos previstos pela empresa aeronáutica brasileira, um autêntico combate ao desemprego na região (4,7% da população). Apesar de vir a atender um grande número, do universo em que se englobam todos os que não encontram condições para fixação na região, não deixa de ser uma brisa agradável. A maior dificuldade é a falta de formação específica em aeronáutica por parte dos candidatos, mas isso será solucionado gradativamente. E não se enganem, pois um alentejano tranquilo pode, de repente, voar...

O investimento inicial está orçado em 148 milhões de euros, e as fábricas serão construídas em 40 dos 107 hectares do parque aeronáutico junto ao aeródromo de Évora. Uma será destinada à produção de estruturas metálicas (asas) e outra à produção de materiais compósitos (caudas). Inicialmente, as unidades serão dedicadas ao apoio logístico de jactos executivos construídos pela Embraer.

Como alentejano, filho adoptivo eborense e brasileiro ao mesmo tempo, manifesto uma satisfação muito especial perante o acontecimento. Comi o pão que o diabo amassou nos tempos da minha juventude vivida na região, bem como a maioria dos jóvens do meu tempo. O cenário não teve alterações profundas até hoje, mas talvez isto seja um sinal de novos tempos e que outros grandes empreendedores lancem o seu olhar para a planície alentejana. Os alentejanos corresponderão com a sua natural grandeza.

sábado, julho 25, 2009

Alentejanices

Numa reunião da Cooperativa Alentejana:
- Compadres, este ano vamos comprar uma máquina nova para apanhar azeitonas, que faz tudo sozinha; recolhe as azeitonas das árvores,
separa as folhas e ramos partidos e até retira os caroços. Vamos aumentar imenso a nossa produtividade e poupar muito na mão-de-obra. - Isso parece realmente muito bom, compadre, mas diga-me lá, essa
máquina também faz sexo - Han?
- Sexo? Oh compadre, claro que nãoooo...
- Antão deixe-se lá dessas modernices, oh compadre, e mande vir as mulheres do ano passado!

sexta-feira, julho 24, 2009

Emobras

Guabí

Hoje é sexta-feira, estou de folga, o dia está chuvoso e nada tenho que fazer... Numa situação dessas, duas coisas fôram auto-sugeridas --- passear o meu cachorro e navegar na internet. Completei a primeira tarefa e comecei a segunda. Porém, sinceramente, a internet começa a tornar-se enfadonha na medida em que evito as notícias repetitivas nas diversas situações e falta-me vontade para descobrir outros caminhos.
Sem querer, um link clicado levou-me a um site no qual se abordava assunto de empresa que completou, no pretérito dia 10 deste mês, 35 anos da sua fundação. E ali se contava num resumo muito resumido (desculpem o pleonasmo) a história daquela que nascera com o nome de Mogiana Alimentos, S.A e por todos conhecida por Guabí, a sua marca comercial. Pelo que senti, no momento, acho que um brilho diferente tomou conta dos meus olhos, mais pelo orgulho de ter feito parte da equipe pioneira e nem um pouco pela ingratidão e desconsideração de que vim depois a ser alvo.
O fulcro da minha crónica é fincado no abstractismo dessas "História da Empresa", pois acho que se deveriam focar detalhes materiais e pessoais para se ter uma ideia concreta de como do quase nada nasceu uma grande potência. Isso seria uma informação interessante e afagava o ego daqueles que se empenharam de corpo e alma na grande epopeia. Entendo perfeitamente que nem tudo deve ser publicado, mas isso é outra história.
De um relacionamento, muito próximo, entre dirigentes da então Purina do Brasil e outros do ramo empresarial e da agropecuária da região da Alta Mogiana, nasceu a ideia de se construir uma fábrica de rações na cidade de Orlândia. Estes últimos cederam as velhas instalações de armazéns da Companhia Mogiana de Óleos Vegetais e os primeiros arregimentaram os elementos chave em diversas unidades da Purina para comandar o navio.
Nessa rede eu fui pescado em Canoas, lá no Rio Grande do Sul e com a família me mudei para Orlândia. Foi duro, muito duro. Desde a supervisão da montagem de equipamentos até à seleção e treinamento de pessoal e gerência da produção, tudo carreguei nas costas, mas fi-lo com interesse e paixão do mesmo modo que a maioria daqueles que a mim eram subordinados.
Com um ano de operação, criou-se naquele espaço uma segunda fábrica, tal a aceitação pelo mercado. Chegámos até ter que trabalhar com os normais três turnos, numa véspera e dia de Natal ininterruptamente.
Quando finalmente se transferiu a planta para a cidade vizinha de Sales de Oliveira e outras já começavam a nascer com parcerias em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, eu já não pertencia mais à equipe.
Fui acompanhando muito superficialmente o crescimento da empresa e a sua ramificação para outros tipos de investimento, e até mesmo a aquisição da unidade Purina, de Campinas, hoje a sua séde e o grande sonho do cacique fundador... Do mesmo modo me certifiquei do grande sucesso de alguns dos pioneiros que enveredaram por outros caminhos e da desgraça de uns poucos. A foto ilustrativa mostra a costura do primeiro saco na linha de produção. Era de ração para cavalos, mas não me lembro do nome da mesma. Afinal, tudo faz parte dessa história que jamais será contada.

Pensamento do dia

quarta-feira, julho 22, 2009

De pai para filho

Quando se trata da família, a propaganda aqui no meu blog é gratuita... Mas também assumo que o sucesso é alcançado mercê da indiscutível capacidade do conjunto, deixando a minha ação para um plano secundário; uma ação de pai para filho com uma pitada de corujice...

segunda-feira, julho 20, 2009

África -- Pós colonialismo

Entrevista com Mia Couto - Julho 2009
João Fellet 07/07/2009
Não contei aqui sobre um dos pontos mais altos da minha viagem: quando, em março, em Maputo, entrevistei o escritor Mia Couto ­ cuja obra costuma ser comparada, no Brasil, à do Guimarães Rosa.
Por uma hora, conversei com ele, entre outros temas, sobre a relação da África com o mundo, o cinismo que houve na comemoração da eleição do Obama no continente africano, o falatório gerado pelo acordo ortográfico nos países lusófonos e como moçambicanos e angolanos lidam com a sua antiga metrópole, Portugal.
Editar esse material provou-se quase impossível, já que, como notarão, em momento algum o Mia deixa de apresentar pontos de vista instigantes e originais sobre os assuntos propostos.
***
O continente africano está vivendo o ciclo de crescimento econômico mais vigoroso desde o fim da era colonial. Entretanto, há casos notáveis de retrocesso, como o do Zimbábue, e vários outros países, como o Congo Democrático e o Sudão, vivem grande instabilidade política e social. No geral, a África está avançando?
MIA - Sim, o problema é que não se sabe para onde, qual é a direção desse progresso – progresso entre aspas. A África tem 30, 40 anos de independência e, feito um balanço, não se sabe se houve um crescimento. No conjunto, provavelmente sim, não sou da tribo dos “afropessimistas”.
Mas vive-se hoje em grande parte do continente africano pior do que se vivia no tempo colonial!?
MIA-A relação da África com o mundo não mudou e continua sendo uma relação colonial – nem sequer vale a pena chamá-la de neocolonial. A África não pode mais se entregar às mãos dessas elites que são predadoras e vorazes no consumo da riqueza, no que também não houve uma mudança. A África sempre teve uma relação em que elites minoritárias vendiam todos os recursos para o exterior. O que houve foi uma espécie de passagem de testemunho, uma mudança de turno, e só.
Como contrapor essas elites num continente em que praticamente não há classe média?
MIA - Imagino que surgirá uma pequena classe média a partir de conflitos internos. A África não é diferente do resto e sempre evoluiu por motores internos. São conflitos que estão surgindo hoje e são visíveis por exemplo aqui, em Moçambique, e na África do Sul, onde, além daquilo que são as forças históricas de contraposição política, estão surgindo outras. Há qualquer coisa nova no panorama em que a divisão não é mais aquela herdada do pós-independência, em que há os heróis libertadores de um lado, intocáveis, e do outro aqueles tidos como saudosistas do passado colonial.
Os confrontos em Maputo no ano passado causados pelo aumento do preço dos transportes e que resultaram em quatro mortes mostram que o país tem uma bomba-relógio nas mãos?
MIA – Sim. Para explicar o que houve, o governo recorre à teoria da conspiração: há uma mão organizou aquele movimento com intenções malévolas. Do ponto de vista da realidade social, isso corresponde a uma profunda insatisfação. As pessoas entraram em choque de incompatibilidade com esse sistema de funcionamento, de administração da sociedade.
Como fazer com que o país mantenha o ritmo de crescimento e reduza as tensões sociais?
MIA – Darei a pior resposta, porque, sendo escritor, tenho muito pouco a dizer sobre o assunto. Mas acho que o que mais falta faz é criar um pensamento produtivo. Perceber que esse discurso de culpabilização do outro, de invenção de inimigos, está gasto, sem perceber que é preciso encontrar caminhos novos, que é preciso encontrar uma outra maneira de construir a economia. Esse é o grande desafio.
Com a crise econômica mundial, o discurso sobre a importância do Estado na economia ganhou força no mundo todo, e em Moçambique o presidente Armando Guebuza disse que é preciso evitar que Moçambique se globalize. Isso não é nocivo para um país que, aos poucos e com sucesso, vinha abrindo a sua economia?
MIA – Acho que Moçambique não notou grande diferença porque nunca saiu desse discurso dirigista. Passou de um socialismo para um capitalismo de Estado, digamos assim, em que há uma enorme promiscuidade entre assuntos do Estado e negócios pessoais.
Moçambique tem sido considerado um “caso de sucesso” por muitos organismos internacionais, por ter conseguido conciliar abertura política com desenvolvimento econômico. Esses elogios não fazem mal ao país?
MIA – Fazem muito mal. Enquanto não houver razões endógenas para estarmos felizes conosco próprios e sermos confrontados com o modelo que nós próprios criamos, seremos os bons rapazes, mas da festa dos outros.
Na reunião da União Africana (UA) em fevereiro, o ditador líbio Muammar Gaddafi foi mais uma vez o centro das atenções com a sua defesa da unificação política imediata do continente. Qual o mal que atitudes e lideranças como essas causam ao continente?
MIA - Acho que isso tudo é uma obra de fachada. Nenhum país africano tem crença na UA a ponto de abrir mão da sua posição no mundo. A UA serve como um patamar para que a maior parte das elites dirigentes da África possa ter alguma posição de consenso, algum ponto de força, mas, de resto, ninguém acredita nela. É mais uma obra de teatro a que eu, como escritor, tiro o chapéu.
E a complacência em relação ao ditador do Zimbábue, Robert Mugabe? Até onde vai a lealdade da classe política dos países vizinhos, Moçambique incluído?
MIA – É preciso que novas gerações, como em Botsuana, surjam. Pessoas que não estejam ligadas a esse tipo de laços históricos, a compromissos pessoais que prejudicam todo o resto. Essa gente se conhece toda, são amigos, fazem parte de um clube. E mesmo que tenham divergências políticas, nunca vão o declarar publicamente. Há aqui uma espécie de sabedoria palaciana. Alguns terão vontade de criticar, porque acham que a posição do Mugabe é insustentável, mas há outros que o admiram, embora não tenham a coragem de dizer, como alguém que teve coragem de bater o pé contra os ricos, o Ocidente. E há um grande desconhecimento sobre a situação interna no Zimbábue. A ideia é que tudo isso que chega é terrível, mas não é verdade, foi fabricado pelo Ocidente.
E Moçambique? Aqui ainda é forte o discurso de atribuir aos outros o atraso do país?
MIA – Moçambique teve um percurso diverso. O discurso de demagogia está presente, mas não é predominante. Hoje já há uma apreciação de que é preciso buscar as responsabilidades dentro. Mas isso foi fruto de muita briga na sociedade civil, para que os dedos que estavam apontados para fora fossem apontados para dentro.
Como é a relação de Moçambique com Portugal? Em Angola, a outra grande ex-colônia portuguesa na África, jornalistas portugueses foram impedidos de cobrir as últimas eleições, em 2008, acusados de participar de um complô contra o país…
MIA – Isso tem a ver com questões que não são só políticas. Lembro-me de uma vez em que estive em Angola e, numa mesa de 20 angolanos, todos negros, perguntei como se dizia feiticeiro numa língua nacional angolana – queria saber as semelhanças com as palavras usadas nas línguas moçambicanas. Ficou um silêncio gelado. Nenhum deles sabia falar uma língua de Angola, exceto o português, que também é uma língua angolana. Aquele silêncio congelou-me e de repente começaram todos a explicar que não se sentiam verdadeiramente africanos. Era uma coisa quase, digamos assim, psicanalítica. Era preciso encontrar uma explicação de sua angolanidade. E isso tinha a ver com a necessidade de marcar Portugal por uma via ainda de briga, de afirmação.
E em Moçambique, isso não ocorre?
MIA - Não. A relação da língua que citei não é inócua. A língua é uma forma de estar no mundo, é uma relação consigo própria. Grande parte dos dirigentes angolanos não fala nenhuma língua bantu. Já os dirigentes moçambicanos sabem e têm uma relação diferente com isso, resolvida. Resolver essa relação com o português enquanto língua passa muito por resolver a relação com o português enquanto povo. Aqui, a questão não está completamente resolvida, claro, mas os portugueses são para nós como os franceses, os ingleses…
Lembro-me de amigos brasileiros cá em Moçambique que foram ver um jogo entre Brasil e Portugal. Eles esperavam que os moçambicanos fossem torcer pelo Brasil, afinal Portugal foi o colonizador. Mas não, torceram para Portugal. Não acho que seja nem bom bem mau, mas há uma relação livre com isso.
No Brasil, muito pouco se sabe sobre Moçambique. A recíproca vale?
MIA - Não. Os moçambicanos têm aquele complexo de ilhéu, como se vivessem numa ilha, e portanto voltam-se ao mundo. O moçambicano médio, que tem escolarização baixa, sabe do Brasil o que os brasileiros não sabem sobre Moçambique, mesmo os brasileiros acima da média.
Embora a relação do Brasil com os outros países lusófonos seja distante, com a exceção talvez de Portugal, o acordo ortográfico teve uma repercussão enorme no país. Como acompanhou a questão?
MIA - Faz parte da nossa cultura, enquanto países lusófonos, enquanto família, celebrar as coisas dessa maneira: ou em carnaval, em grandes festas, ou em dramas existenciais, coisa que nem os francófonos, nem os anglófonos têm. Estamos sempre a indagar: será que existe a lusofonia? É uma coisa quase paradoxal: existimos na medida em que duvidamos da nossa própria existência e investimos nessa polêmica. O que vale é que, para além disso que é o lado oficial da lusofonia, há outras coisas que acontecem e que estamos a discutir aqui, como o como o fato de os moçambicanos se informarem sobre o Brasil, a ligação histórica entre os países…
Acho que essa polêmica em relação ao acordo foi muito insuflada pela parte portuguesa – os países africanos nunca fizeram grandes questionamentos. Também acho que é preciso justificar tão intensamente a razão de ser desse acordo ortográfico que, logo à partida, já tenho dúvidas se algo que precisa ser tão justificado tem alguma razão de ser. O triste é que se deu tanta importância a essa discussão e outros debates essenciais e que têm a ver com a nossa ligação mais profunda ficaram à margem, e assim vão continuar.
Depois de irem para Angola, as empresas brasileiras começam a chegar a Moçambique – a Vale e a Odebrecht recentemente anunciaram investimentos no país. Será que essas relações comerciais podem aproximar os dois países?
MIA – Acho que sim. Essas companhias vêm para cá para fazer negócios, mas elas se apresentam como tal, não têm uma fachada de cooperação, de troca de amizade. São relações comerciais, empresariais, mas que por arrasto trazem outras coisas, como brasileiros trabalhando em Moçambique ou em Angola, moçambicanos trabalhando nessas companhias, e assim surgem coisas em paralelo.
Acredito mais nesse tipo de relação do que em qualquer outra. O resto é sabotado por intenções políticas, é fabricado como uma bola de sabão.
Qual a sua opinião sobre a crescente presença chinesa na África?
MIA - Não vejo isso como um problema. Devia era haver chineses, indianos, brasileiros, vários povos cumprir a nossa vocação. Já que temos de ser colonizados por uns, seremos por todos.
Mas não acha que a troca com a China, em particular, é nociva na medida em que não resulta em transferência de tecnologia?
MIA – Isso, sim. Os chineses têm dessas atitudes. Na área ambiental, que é a minha, não existe nenhum cuidado nem pressuposto… é um paradigma que está ausente. Existe também uma dificuldade, que faz parte da história dos chineses – os chineses nunca tiveram esse tipo de relação com outros povos –, e com eles troca-se muito pouco. Há outra coisa perigosa, que é a posição mais pragmática em relação regimes políticos. Não lhes interessa o regime político que há em África. Mas, na verdade, a posição seletiva do Ocidente sobre quem são os bons e os maus é um critério muito falível. Achavam maus os dirigentes da Guiné Equatorial até se encontrar petróleo – de repente, já eram bons rapazes. Mas, de resto, os chineses têm uma cultura de trabalho que pode nos ser útil.
Quando o Obama venceu a eleição nos EUA, você escreveu um artigo dizendo que ele jamais seria eleito num país africano (porque, entre outros motivos, ele não seria considerado um “africano autêntico”, por ser mulato e filho de imigrantes). Acha então que a vitória dele foi exageradamente comemorada no continente?
MIA - O artigo que escrevi para um jornal em Moçambique não estava a falar do Obama em si, mas dos regimes africanos, e contra esse cinismo de celebração do Obama. O principal fator pelo que o Obama é celebrado – a questão racial – foi construída.
De repente, o Obama aqui já era negro. Em Moçambique, e na maior parte dos países africanos, na rua, ele seria um mulato. Mas havia uma necessidade de construir um ídolo. Obviamente ele vai desencantar esse tipo de pessoa que investiu nele – como fez até o Mugabe, ao dizer que “finalmente um irmão chega ao poder”. Para essas pessoas, ele vai passar de herói a vilão num clique de dedos.
A identidade de alguém é definida pela cor da pele, por relações de natureza genética, ou pela sua própria história individual? No caso do Obama, todos sabemos que ele é muito pouco ligado à África. Ele é filho de um africano que se desligou, de um imigrante americano. Isso foi esquecido, posto à margem para a celebração, o que também mostra que há um sentimento de falta de auto-estima, uma necessidade de ter projeção em pessoas, ídolos, que continua a ser muito forte na África.
A África é provavelmente o lugar do mundo em que a telefonia celular mais transformou a sociedade ­ até porque, em muitos lugares do continente, ela chegou antes que a telefonia fixa. E em países como o Quênia e a Tanzânia, os celulares já são usados para fazer transferência de dinheiro, mesmo por camponeses. Você acompanha essa revolução tecnológica?
MIA – Tenho uma relação muito difícil com o celular – fui o último da família a tê-lo, porque achava que perderia a minha privacidade e não queria depender de uma máquina. Mas percebo que, do ponto de vista social, é uma espécie de instrumento de democratização, que de fato mudou a vida de muita gente. É preciso pensar que num país onde as pessoas não se comunicam, onde tudo é distante, de repente tudo se tornou mais próximo. Há aqui uma porta, um canal de unificação, que coloca o rico e o pobre em pé de igualdade perante essa possibilidade de se comunicar. É fantástico.
Fonte: http://candongueiro.wordpress.com/2009/07/07/mia/

terça-feira, julho 14, 2009

Ciranda Financeira

Numa pequena vila, além da chuva, nada de especial acontecia. Mas sente-se a crise financeira internacional.

Onde todo mundo devia a todo mundo.

Subitamente, um rico turista chega ao pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de $100 sobre o balcão, pega a chave e sobe ao 3º andar para inspecionar o quarto indicado, na condição de desistir se não lhe agradar.

O dono do hotel pega a nota de $100 e corre ao fornecedor de carne a quem deve $100, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões para pagar $100 que devia há algum tempo. Este, por sua vez, corre ao criador de gado que lhe vendera a carne e este por sua vez corre a entregar os $100 a uma prostituta que lhe cedera serviços a credito.

Esta recebe os $100 e corre ao hotel a quem devia $100 pela utilização casual de quartos para atender a clientes.

Neste momento o turista rico desce a recepção e informa ao dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, e pede a devolução dos 100.

Recebe o dinheiro e sai.

Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescido.

Contudo, todos liquidaram as suas dividas e estes elementos da pequena vila agora encaram o futuro de forma otimista.

É assim que funciona a ciranda financeira. O dinheiro sempre volta para quem o detém.

domingo, julho 12, 2009

Manuel Carrascalão

Manuel Carrascalão, veterano da luta pela independência de Timor Leste, morreu neste sábado, aos 75 anos.
O político timorense era um veterano da luta pela independência do país.
O histórico defensor da autodeterminação timorense não resistiu às complicações de saúde sofridas depois de uma embolia cerebral.
Sucessor de Xanana Gusmão na liderança do CNRT, afastado da política há algum tempo, estava hospitalizado em Díli há dois meses.
Conheci-o pessoalmente nos anos 68-70.
Nas pessoas de seus irmãos, Angela e João, apresento os meus sentidos pêsames.

sábado, julho 11, 2009

Desalojados

Ontem coloquei aqui uma bela foto de um pintassilgo comendo sementes de extremosa e que me foi enviada pela minha amiga jornalista Vera Fernandes.
A postagem deveu-se mais ao flagrante em si e deixei a história daquele e outros pintassilgos para outra oportunidade. Afinal, o assunto é interessante e actualíssimo e, quando assim, raramente passo batido, preferindo até debruçar-me mais sobre esse tema, que considero importantíssimo, em vez de focalizar as desgraças da política. Desgraça por desgraça, deixo os estupores para lá...
A Vera me contou que todas as manhãs recebe a visita daquele e outros pintassilgos na janela da sua sala de trabalho. Dali eles vôam para os galhos das extremosas para comerem as sementes e voltam; é um vaivém com sonoridade agradável na expressão da alegria que demonstram e que a todos cativam. Dá ânimo para o enfrentar da labuta do dia que começa.
Ontem, ao final da tarde, também eu vivi uma experiência envolvendo um casal de animais silvestres --- dois saguís, que habitam a cidade grande pelo mesmo motivo dos pintassilgos e muitas outras espécies. Já tinha percebido a sua presença aqui no bairro, um pouco mais distante daquele bar onde me encontrava. Surpreendi-me pelo facto deles terem passado para o outro lado da movimentada avenida, se realmente dos mesmos se trata.
Notei que os dois saguís estavam juntos na copa de uma frondosa árvore e, de repente, um foi avançando sobre um dos cabos de alta tensão até perto do poste. Aqui, inadvertida e inconscientemente, a sua cauda tocou um outro daqueles cabos e instantâneamente morreu electrocutado. Ouvi o gritar do parceiro que, não sei por que motivos, resolveu fazer exactamente o mesmo percurso e da mesma maneira. Viveram juntos e juntos morreram.
Esta cena chocou-me profundamente e tanto mais porque, uma semana atrás, almocei num belo lugar rodeado de grandes árvores habitadas por dezenas dessa espécie de macaquinhos. Era o seu habitat natural num resquício de mata atlântica enfronhado na cidade, mas que ainda lhes oferece condições de sobrevivência. Não sei até quando.
Aqui na minha humilde casa tenho um quintal grande e nele aceroleira, pitangueira e mangueira, além das várias espécies de flores. É uma festa durante todo o dia, orquestrada por sabiás, maritacas, sebinhos beija-flores e outros, quando o gavião carcará não plana sobre o local... Por trás de todas essas maravilhas esconde-se, afinal, o grande drama que origina essa migração do campo para a cidade --- o desmatamento e o envenenamento das matas e rios. Ainda por cima, na cidade, algumas dessas criaturas encontram cabos electrificados em vez de cipós e não percebem as diferenças.
Temos que fazer algo para reverter essa situação. Estamos adiando isso há muito tempo. Não podemos esperar decisões desse tipo por parte dos G8, G14 e outros que tais. Temos que formar um "G" elevado à enésima potência e agir com afinco e seriedade. Os netos dos nossos netos agradecerão reconhecidamente.

sexta-feira, julho 10, 2009

quarta-feira, julho 08, 2009

O lixo e o Lixão

Já se passaram alguns dias que desembarcaram em dois dos maiores portos brasileiros vários contentores carregados de lixo. Puro lixo, se é que existe lixo puro...
As guias de exportação referem "lixo reciclável". Mas não é! Desde fraldas cagadas até resíduos hospitalares, tem de tudo o que de mais nojento possa existir.
Alguns jornais deram a notícia em cima da hora; canais de tv de grande penetração, só agora o fazem. Em qualquer dos casos há um erro crasso: a não divulgação dos nomes das empresas que exportaram e que importaram esse lixo. Porquê?
O primeiro passo a ser dado era a identificação dessas empresas ou grupos e isso, certamente, seria a ignição de uma grande revolta popular que aceleraria a devolução de toda essa merda e a consequente punição dos envolvidos. Para remover outros tipos de lixo, parece não ser possível por enquanto (...) mas esse é certamente.

segunda-feira, julho 06, 2009

Depoimentos (2)

Sem duvida Suzi que todos compartilhamos do mesmo sentimento. Eu particularmente era um dos “idosos” e sentia-me um pouco excluído no inicio do curso (casado, dois filhos, recém chegado a Jundiaí, morava no Eloy Chaves) e por isso fazia parte de um grupo que me acolheu por algumas coisas em comum. Você fazia parte de outro grupo que tinha outras afinidades e assim por diante, cada um se agrupava com aqueles que mais tinham algo em comum na época.

Agora foi diferente. A idade já não importa, a situação financeira idem, o Ézio lembrou bem que nem para que time de futebol cada um “torce” era conhecido e tambem não importa, o atual emprego ou ocupação não importou – nos encontramos sem qualquer mascara ou disfarce e isso foi a tonica deste nosso encontro e, por isso foi tão bonito e gostoso para todos nos. Ninguém se importou em ser chamado de careca, barrigudo, velho, gordinha, ou o adjetivo que fosse, apenas relembramos, rimos, sentimos profundamente o sentido real dessa nossa reunião e foi maravilhoso realmente.Sentimos o real sentido da Amizade!!!

Tomara consigamos manter contato e aumentar o numero de participantes na próxima reunião que estão planejando para Dezembro.

Vamos la.....esse e o sentido da vida....alegria sem preconceitos, sem interesse, sem esperar outro retorno senão mais alegria.

Um abraco a todos e muito obrigado a todos pelas horas muito felizes que proporcionaram a mim e acredito, a todos os presentes.

Que os ausentes se preparem desde já para a próxima reunião - agora vocês serao os “bichos” da Turma e sentirão a alegria que compartilhamos neste dia 4/7/2009.

Valdir

Depoimentos

Acerca do nosso Encontro-Almoço (antigos companheiros de Faculdade), tomo a liberdade de aqui postar os dois primeiros depoimentos. Assinados por duas colegas; elas são mais emotivas que eles ou, pelo menos, exteriorizam com mais facilidade os seus sentimentos... ______________________________________________________________________

Caros amigos!

Não pude deixar passar o dia e esfriar as emoções. Estou tão feliz que gostaria de compartilhar minha felicidade com vocês!

Nosso encontro foi mágico.

Agradeço a todos e a cada um o esforço que fizeram para comparecer no almoço de hoje, mas tenho cá para mim que valeu a pena. Foi tudo lindo e comovente.

Sei que alguns deixaram familiares, não sem pesar. Sei que outros arrastaram maridos, esposas, filhos, namoradas, amigos a um encontro que para essas outras pessoas poderia não fazer muito sentido, mas que foram todos acolhidos com prazer. Muitos vieram de outras cidades. Outros tantos driblaram compromissos. Eu mesma, se não fosse o apoio de meu marido e de meu filho, não poderia ter ido.

As lembranças, os risos, as piadas, os "causos", a constatação constrangedora de que não lembrávamos o nome de muitos mas o alívio de que a recíproca era verdadeira, tudo foi especial.

As lembranças do fatídico vendaval. O dono da lanchonete da faculdade que apareceu, justo hoje, lá no restaurante. (Será que alguém esqueceu de pagar o chocolate quente ou o hamburguer?)

Os organizados que atenderam ao apelo e vieram com crachá, o pessoal que (como eu) escreveu rapidinho o nome na fita crepe emprestada do bar e colou na roupa para evitar constrangimentos maiores (aliás alguém devolveu a fita crepe?). Os de última hora que chegaram após o almoço (tipo o Cláudio) mas que chegou a tempo de mais uma foto e de um abraço em cada um que lá estava. O resgate da Graça, que se perdeu no caminho, por amigos que deixaram o almoço prá mais tarde só para resgatá-la.

As fotos que vários amigos trouxeram e que deram a dimensão de que precisávamos para resgatar nosso grupo e transportá-lo para o presente. O lamento por aqueles que partiram tão cedo, sem tempo de nos reencontrar.

A todos e a cada um o meu grato abraço pois transformaram um sábado qualquer, num sábado mágico que, como num "Túnel do Tempo" (esse é antiguinho), permitiram conectar passado e presente numa só emoção.

Àqueles que não puderam comparecer, lamentamos, mas tenham certeza que foram lembrados. Ficamos o tempo todo na expectativa de que alguém mais chegaria, tentando reconhecer algum amigo nas pessoas que por lá chegavam. A cada um que chegava e era reconhecido, uma nova explosão de alegria.

Outros encontros virão com certeza, e continuaremos tentando localizar os "perdidos" para transformar um dia qualquer em mais um dia mágico!

Obrigada e um grande beijo em cada um.

Laura

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Hoje me deparei com a realidade, eu tinha amadurecido.

O que eu via no espelho era uma pessoa com mais idade, tudo estava alterado; os meus cabelos, o meu corpo, já não eram os mesmos; mas diante do espelho eu fechei os olhos e dentro de mim, guardadinhas em um cantinho, ainda estavam aquelas pessoas dos anos 80, alegres, com todo a juventude e vitalidade.

Eu voltei a relembrar tudo o que havia passado e as artes que tinha aprontado.

O sorriso voltou em meus lábios e meu coração voltou a palpitar como o de uma criança que descobre a alegria de ganhar um presente.

Foi assim que me senti.

Alegre, feliz, cheia de vida; e a juventude voltou num relampago.

A vocês eu agradeço por esta oportunidade, de rever quem só me fez bem.

Agradeço pela minha saúde, pelos meus familiares e pelos amigos que conquistei ao longo desses anos.

Como foi bom encontrar amigos, com uma família companheira, que entenderam a importância deste encontro.

Talvez na época da faculdade não tenha sido possível ter uma amizade estreita com todos, pois nos dividimos em grupos e foi assim até ao término do curso.

Mas agora a vida está nos dando a oportunidade de nos conhecer melhor a estreitar este convívio e, assim, nos tornar um grande grupo.

Às minhas companheiras, Lígia, Laura, Ana, Angela e Luiza, o meu eterno agradecimento pela época boa.

Aos queridos Nelson, Ebúrneo e Mussi como foi bom trazer vocês de volta.

E aos outros colegas, este coração ainda tem muito carinho para dar e estará aberto para todos vocês.

Não vamos nos perder novamente. A vida é uma criança e depende de nós deixar ela crescer e se tornar chata ou deixá-la sempre uma criança feliz.

Beijos, Suzi.

sábado, julho 04, 2009

Reencontro

Vinte e seis anos depois, finalmente reencontrámo-nos. Nem todos estavam presentes, mas talvez estejam na próxima vez que nos reunirmos.
No ano de 1980 esta turma de Administração de Empresas e outras de outros cursos, inauguraram o Campus das Faculdades Padre Anchieta, na cidade de Jundiaí. Para todos nós foi um privilégio.
Após a formação, em 1983, a maioria de nós jamais se encontrou e isso eu considero um pecado gravíssimo... Devido à correria dos dias de hoje e porque cada um se dispersou, alguns até para outros países, no afinco da sua profissionalização ou na busca de melhores oportunidades, não houve um interesse geral em marcar encontros com alguma assiduidade.
Desta vez essa missão foi criada e concretizada pelo esforço de uma meia dúzia de abnegados. Para todos os que estiveram presentes a alegria foi transbordante. Cada um que chegava era recebido apoteóticamente. Neste tipo de encontro, o que mais se recorda são as passagens de antanho, principalmente as mais pitorescas, e no bojo a curiosidade sobre a vida de cada um. Foi um dia maravilhoso para todos nós e, na hora das despedidas, a promessa de um contacto permanente e o esboço do projecto para a próxima reunião.

sexta-feira, julho 03, 2009

Generacion Y

Hoje, ao tentar acessar o famoso blog "Generacion Y", como faço todos os dias, notei que está com problemas. Acredito que muitos outros como eu estejam com a mesma dificuldade. Só espero que não seja uma artimanha dos irmãos Castro. Aguardemos.

Telefonica

A empresa espanhola entrou no Brasil durante o Governo FHC sob a privatização das tecomunicações. Fôram muitas facilidades. Mesmo assim, os usuários da telefonia pagam uma taxa fixa que ronda 10% do salário mínimo, independentemente das ligações que sejam efectuadas, estas a serem acrescentadas à conta.
Na Espanha não é assim... Aqui a empresa alegou não abrir mão dessa taxa, pois a mesma seria revertida em investimentos para melhoria dos serviços e ampliação da rede. O grande problema é que isso não condiz com a realidade.
A Telefonica é a empresa campeã em reclamações por parte dos usuários, principalmente nos serviços de banda larga da internet. Agora, finalmente, a agência reguladora proibiu a empresa de vender os seus produtos enquanto o serviço de banda larga não esteja a contento.
Creio que tão brevemente ou até mesmo jamais, venhamos a usufruir de um serviço decente. E entendendo-se que nada houve de investimentos, a medida certa era a de obrigar a empresa a não mais cobrar a taxa compulsória. Chego a sugerir que todos os usuários fôssem reembolsados do montante que cada um pagou nestes anos; o governo deveria baixar uma medida nesse sentido.
Com vigilância apertada, se esse nó não fôr desapertado, que se casse a concessão. Aliás, esse é o grande desejo da maioria que sente o seu clamor abafado por aqueles que têm o rabo preso e detêm o poder. Quanto a mim, pobre escriba, esperneio aqui mesmo, sabendo de ante-mão que poucos lerão o que escrevo, mas sinto-me mais tranquilo por ter desabafado. Estou mudando de operadora já no início da próxima semana e acredito que milhares de outros como eu façam o mesmo. Poderei até pegar na mão outro abacaxi para descascar, mas é a alternativa...

Bichas e Paneleiros

Se existem temas sobre os quais eu não nutro o mínimo interesse de discussão ou abordagem, a homossexualidade é um deles. Não que não possua opinião a respeito, pois afirmar isso seria uma imbecilidade. Simplesmente não me proponho a entrar nesse campo por considerá-lo pantanoso e saber que muitos o fazem por pura demagogia. Assim, fico em cima do muro e vou observando o que se passa dum e doutro lado.
Quem leu esta minha introdução, já deve ter tido duas decepções: a de que o assunto a desenvolver não é o da primeira pincelada e o do uso da contração preposicional em "dum" e "doutro". Ou não?
A minha maneira de escrever pode até ser considerada um pouco esdrúxula --- e eu concordo, pois existem três factores a contribuir para isso: a minha formação mais antiga, a vivência em dois países de língua portuguesa que se expressam com muitas diferenças e o não cumprimento dos acordos ortográficos.
Acabei de ler um dos três jornais diários, o que faço todos os dias, e num deles tem um artigo com este título: "Corte da capital da Índia legaliza relações entre homossexuais". Num primeiro impulso fiquei meio confuso mas, lògicamente, essa confusão foi só momentânea e, a não ser assim, demonstraria alguma burrice da minha parte. E a outra parte como fica? --- aqueles que não entendam a coisa tão momentâneamente?
O título dá a impressão que se dividiu a capital da Índia em duas partes: uma dos homossexuais e a outra dos heterossexuais. Levando em consideração o elevadíssimo número de habitantes, teríamos ali um astronómico número de bichas...
Temos aqui, então, uma das muitas falhas que constam do último acordo ortográfico: considerar "corte" e não "côrte". Exactamente o mesmo caso de "para" e "pára" que podemos ver nas frases "uma vitória para o Brasil" e "uma vitória pára o Brasil". O não uso do acento em "para", que passou a ser a regra, induz-nos em erro numa manchete de jornal.
Se o assunto ao qual se refere a manchete despertar o interesse do leitor, logo no começo do desenvolvimento da matéria ele ficará sem dúvidas e continuará ou não a leitura. Mas, se não lhe despertar interesse, pela primeira impressão e, assim, não continuar a leitura, poderá ter perdido a oportunidade de se informar sobre algo que, afinal, seria interessante para ele. Independentemente de todas essas confusões linguísticas e de acordo com a minha maneira de escrever para gregos e troianos, no que se refere à Índia podemos crer que, pela dimensão demográfica, não existem lá muitos paneleiros...