segunda-feira, março 17, 2008

AO DESTINATÁRIO COM CARINHO

De Cavaco Silva para Ramos Horta

"Espero que, em breve, possa regressar a Timor e reassumir a chefia do Estado", escreve o Presidente português na carta dirigida ao seu homólogo timorense e que foi acompanhada por uma garrafa de vinho do Porto de 1949, ano do nascimento de José Ramos-Horta, e pastéis de Belém."Envio-lhe, caro amigo, um contributo para reforço do seu ânimo e prazer do paladar: um Porto de 1949 (ano da sua graça) e pastéis de Belém", adianta ainda Cavaco Silva.
Um vôo de Lisboa a Darwin, com as escalas que forçosamente terá que fazer, não se completará em menos de 20 horas. Acreditando que tenha sido um vôo comercial e presumindo ter havido baldeações, enfim, deve ter demorado ainda mais.
O vinho do Porto com 59 anos de idade, certamente que se trata de um “vintage” e, por isso, poderá manter a sua qualidade inalterada por muito mais tempo. Quanto aos pasteis de Belém...
Em 1968, contava eu seis meses de permanência em Timor, numa das terças-feiras em que recebíamos correspondência através do Serviço Postal Militar (SPM 0036 era o meu endereço...), chegou uma encomenda entre algumas cartas. O conteúdo das cartas já me causava ansiedade e curiosidade; uma encomenda, então, nem se fala. Aquela era remetida pela minha única tia que me considerou sempre como o filho que nunca teve e eu, recìprocamente, a considerava como minha segunda mãe.
A maioria dos meus camaradas abria a correspondência ali mesmo, no SPM de Taibesse. Via as suas expressões de alegria ou tristeza à medida que liam as cartas e acompanhava a troca de idéias entre uns e outros durante o tempo em que esperava a minha vez. Eu levava tudo para abrir em casa, pois morava a cem metros dali, no Bairro dos Sargentos.
Sem sombra de dúvidas que a primeira coisa a ser aberta foi a encomenda. O papel primeiro e depois aquela pequena caixa de papelão. Lembro-me como se fosse hoje que fiquei olhando, incrédulo, para aquele bife empanado...
Por incrível que pareça, não estava putrefacto! Não tinha qualquer cheiro desagradável e até parecia fresco. Claro que o joguei no lixo. Porém, não tive a “obrigação” de explicar aos meus camaradas o motivo da sequência das minhas expressões: ansiedade, perplexidade, acabrunhamento, desânimo, compreensão...

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