quinta-feira, março 13, 2008

FRONTEIRAS DA LIBERDADE

Sempre tive preferência em gozar férias no final do Verão; Setembro em Portugal e Fevereiro no Brasil. Era mais fácil marcá-las para essa época, pois a maioria abespinhava-se para escolher os períodos de alta estação, enquanto eu podia fazê-lo com tranqüilidade e sempre com a certeza da satisfação dos meus desejos.
Chegava o tão esperado dia e a minha mochila já estava pronta com tudo o que entendia ser o indispensável. Dinheiro nunca era muito; algumas vezes, não o suficiente para acompanhar a amplitude da programação, esta nem sempre cumprida ao pé da letra pois que, repentinamente um outro rumo era seguido.
Pé na estrada. Parando um pouco aqui e ali para descansar. Tanto na caminhada como nos momentos de pausa, o dedão da mão direita de imediato se erguia para pedir boleia (carona) quando da aproximação de um carro ou caminhão. Nem tanto pelo preço de uma passagem que até poderia ser irrisório e sujeito a demorar o dobro ou o triplo do tempo para chegar ao destino, a verdade é que eu adorava deslocar-me dessa maneira --- “sem lenço e sem documento” revestido de total liberdade.
Um cacho de uvas colhido naquela vinha beirando a estrada e o matar da sede mergulhando a cabeça no caldeiro de um poço adiava por mais algumas horas uma refeição normal. Muitas vezes dormi ao relento ou num daqueles celeiros de palha de trigo quando de mim se apoderava o cansaço e resolvia continuar no dia seguinte.
Finalmente chegava ao final da primeira etapa e, como em todos os pontos de destino, sempre procurava uma área livre de campismo para armar a minha barraca. Só em última instância me instalava num parque oficial... De qualquer modo, a segurança era total. Sendo um lugar que visitava pela primeira vez, a primeira tarefa era reconhecer o terreno e inteirar-me sobre tudo com o que poderia contar para satisfação das necessidades básicas da minha permanência.
Dois ou três dias passados, arrumação da tralha e começo da caminhada para o destino seguinte que tanto poderia ser uma praia, uma montanha ou até mesmo um centro histórico interessante. Novas amizades sempre se faziam, mas nem sempre constituíam motivo para me fixar neste ou naquele lugar. E assim decorria o período de trinta dias das minhas férias.
Tentando montar um cenário semelhante para os dias atuais, levando em conta que as caminhadas nas estradas e as caronas são coisas ultrapassadas tanto pela insegurança como por um espaço mais global, é impossível imaginar que aquele jóvem de antanho não seja barrado na primeira fronteira em que apresentar o seu passaporte...

Sem comentários: