domingo, janeiro 20, 2008

CASA DE POBRE

Foi a maior mancada .O Lalau deu-se tão mal que precisou do S.U.S. Invadiu o barraco do irmão na esperança de recolher algumas hortaliças mas ficou só no susto. Não tinha nem vintém. Deram goela ou chegaram primeiro.

Em vez de mesa tinha um caixote; aliás, um engradado vazio de cerveja faltando duas tábuas. Olhou do lado e viu um pobre vira-lata que nem conseguiu latir de tão magro. Com medo, tentou se levantar para correr e precisou encostar-se na parede para não cair.

Foi no quarto e viu sobre vasto material jornalístico um velho colchão de camping com cobertor rasgado. Ficou desesperado.

Pensou em deixar algo para nobre irmão mas também não tinha. Ouviu umas vozes na cozinha e vislumbrou um velho "três em um" com estações misturadas. Pensou que era uma reunião de malandro falando a linguagem do morro.O radio sintonizava duas emissoras em ondas curtíssimas, junto com uma rádio pirata do morro vizinho.

Tinha também um velho violão sem cordas e poucos traços. Arranhou o arame e não saiu nada. Estava sem os fundos e sem som.

Quanto “misere” em cima de uma criatura de Deus. Pensou em fugir rápido para não se contaminar, mas a janela pela qual havia entrado fechou-se com o vento. Viu uma porta semi -aberta e do lado em vez de fogão tinha uma espiriteira com um caldeirão preto por dentro e por fora. Teve vontade de chorar de tristeza. Foi sair de fininho mas enroscou-se na tramela e a bendita porta tombou sobre ele.

Acordou a palafita de frente e foi um deus nos acuda. Um mais louco puxou de um ferro mandando brasa em toda direção. Jogaram granada, bombas de festim e o bicho.

O malandro se jogou na lama na esperança de safar-se. Era uma podridão dos diabos; esgoto puro de outros cortiços. Ralou peito e cara no mesmo tempo.

Não teve outra saída. Levantou-se, lembrou de um velho refrão e gritou a todo pulmão: PEGA EU QUE SOU LADRÃO!

Marcílio de Freitas
Imagem da Web

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