Não é meu costume e também não gosto de ficar batendo na mesma tecla. Todavia, a postagem anterior relativa ao tema foi superficial e, tendo agora outras informações, resolvi escrever mais alguma coisa.
Perdi a conta das piadas de português que os brasileiros já me contaram acintosamente, se bem que com áurea de brincadeira. São quase 40 anos servindo de alvo. Porém, este alvo ricocheteia; levo sempre a coisa na brincadeira e, muitas vezes, até costumo revidar com duas em troca de uma, também subordinadas ao mesmo tema…
Só não tolero quando essas piadinhas ultrapassam o círculo de amigos ou as mesas de bar e se estabeleçam nas rádios, tvs e outros lugares que se componham de uma certa formalidade. Já várias vezes protestei a quem de direito e recebi pedido de desculpas.
Pelo que me foi dado ver no vídeo da Maitê, aquilo foi uma produção pessoal que ela guardou como se guardam fotos e outros registos de viagens. Tanto é assim, que o mesmo é datado de 2007. O conteúdo, os comentários, são coisas pessoais idênticas a muitas que a maioria de nós podemos fazer a respeito disto ou daquilo, mesmo que certo ou errado.
O que é de condenar, é exactamente ela ter tornado público esse registo num programa de televisão. É algo que só a ela e aos seus círculos privados de relacionamento poderia interessar. E é aqui que eu costumo espernear, como mais acima referi.
Atentando mais concentradamente ao conteúdo do vídeo, não encontrei nada ali que inferiorizasse os portugueses. Antes pelo contrário.
Quando ela se debruça sobre o facto do fulano ter colocado o número 3 da porta de sua casa, invertido, poderia até ser uma deixa a dar motivo de chacota, do mesmo modo que nós damos risada das milhares de placas esdrúxulas que por esse Brasil afóra encontramos. E em Portugal também. Aquele “3” até pode ter sido colocado propositadamente naquela posição e, se assim, temos ali uma pitada de humor que Maitê diz que os portugueses não têm…
Chamar Sintra de Vilazinha, foi demais. É o mesmo que se referir assim a Santos, a mais célebre Vila do Brasil. Quantos dos nossos escritores ali moraram ou sobre ela escreveram!? E quanto da história transpira do castelo e do palácio?!
Ao referir-se ao claustro do Mosteiro dos Jerónimos como pátio, e a D. Manuel como os Manueis generaliados em Portugal, os seus conhecimentos de história e arte deixam muito a desejar. Ela estava visitando uma das obras arquitectónicas mais fafulosas do Mundo e sem conhecimentos básicos.
Quando comentou sobre o túmulo de Camões, a sua ironia foi dramàticamente reles. Uma pessoa que gravita pelas artes cénicas e literárias sempre deverá respeitar os grandes ícones. Lògicamente que Maitê jamais chegará aos calcanhares do nosso maior ou de Shakespeare, Cervantes, Beckett, etc..
Apontando o monumento aos Descobrimentos e chamando de mar o Rio Tejo, e a trança que de tudo isso fez, denunciou outra vez a sua ignorância sobre história, geografia e política. Política, quando a Salazar se referiu.
Maitê resolveu tirar um sarrinho quando citou Salazar. Fez piada porque os portugueses o estavam desenterrando numa votação para eleger a maior personalidade do país de todos os tempos. Aqui ela não soube associar o facto à votação que teve em São Paulo o rinoceronte Cacareco (1958) e o macaco Tião no Rio de Janeiro (1988). Os motivos eram os mesmos.
Por último, vejamos quem cuspiu na fonte e sem comentários…
Em todos os quadros do vídeo que eu citei aqui, nada tem que desabone os portugueses. Tudo o que tem só desabona Maitê. Até mesmo o único que falou foi cordial e atencioso. Os pseudo-diálogos e informações vieram todos do cérebro, da criatividade da actriz. Nem na rua aparece um português a cuspir no chão, quanto mais numa fonte…
Li ontem uma crítica na imprensa Lisboeta, em que o autor atribuía esse comportamento da divulgação do vídeo a um amor frustrado com um português, entre outras coisas… Será? Mas aí já é entrar em terreno pantanoso.
Se é isso mesmo, e porque já aconteceu algo idêntico entre um conhecido político lusitano, grande sportinguista e uma conhecida actriz e colega de Maitê, só me resta aconselhar essas velhinhas a tomarem juizo, pois os portugueses são fogo e não estão aí para brincadeiras…